A sociedade cabo-verdiana: a evolução da estrutura social cabo-verdiana

1ª fase – Sociedade colonial escravocrata (1462-1878):

1º momento (séc. XV)

A sociedade cabo-verdiana era constituída, inicialmente, por dois grandes grupos étnicos: brancos europeus e negros africanos. É com este substrato humano, de brancos e negros que se ergue a sociedade das ilhas de Cabo Verde, uma sociedade baseada numa relação de dominação, legitimada, essencialmente, na origem étnica e na riqueza.

-Brancos (colonos) –grupo dominante e numericamente minoritário;

-Negros (escravos) – grupo dominado e representavam a maioria da população.

2º momento (século XVI-XIX)

A partir do século XVI, a estruturada social da sociedade cabo-verdiana já era constituída por quatro grupos sociais distintos: os brancos no topo da pirâmide, os escravos na base, os africanos livres, os pretos forros e os mestiços, na parte intermédia.

Brancos (reinóis e “brancos da terra”): Ocupavam o topo da hierarquia económica, social e política. Eram formados por capitães donatários, oficiais militares, funcionários régios, padres, morgados, sesmeiros, comerciantes-armadores, etc.

-Mestiços (descendentes de uniões extramatrimoniais entre brancos e negras): tanto podiam ser reconhecidos e, por vezes, legitimados ou ficar cativos ou então alforriados. Os mestiços, assumidos pelo pai, gozavam de uma posição mais privilegiada, podendo então ascender socialmente. Muitos passaram a ocupar cargos de destaque na administração da ilha e também nas atividades económicas.

-Pretos forros: (escravos alforriados): desempenhavam várias funções. Podiam continuar a trabalhar para os seus senhores, ou exercerem alguns ofícios comerciais como marinheiros, línguas ou agentes de um mercador, ou até chegarem a pequenos proprietários de parcelas de terra.

-Escravos: formavam a base da pirâmide social e constituíam a maioria da população cabo-verdiana, nos primeiros séculos da colonização. Havia escravos rurais, submetidos a trabalhos de grande esforço físico, e os domésticos, que trabalhavam nas casas dos senhores e com eles mantinham relações de proximidade e uma certa confiança. Havia ainda os escravos de ofícios especializados na cidade (ferreiros, sapateiros, alfaiates, artesãos, vendedores, carregadores e até mercadores. 

2ª fase – Sociedade colonial pós-escravocrata (1878-1975):

A abolição da escravatura no arquipélago marcou o fim da sociedade escravocrata em Cabo Verde, o que contribuiu para a reconversão da estrutura social e a emergência de novas camadas sociais. Nessa altura, a classe dominante local de origem portuguesa foi gradualmente substituída pelos crioulos cabo-verdianos.

– Classe dominante: governadores, administradores, morgados, oficiais superiores, padres, juízes, etc.

– Pequena burguesia: letrados, funcionários públicos, comerciantes, etc.

– Camadas populares: rendeiros, parceiros, meeiros, jornaleiros, pescadores, pedreiros, carpinteiros, artesãos, pequenos negociantes, etc.

3ª fase – Sociedade pós colonial (1975…):

O fim da colonização, que culminou com a conquista da independência nacional, contribuiu para a reestruturação da sociedade cabo-verdiana. A partir de então, emerge uma nova estrutura social bastante heterogénea.

Embora não haja dados precisos sobre a composição dos diferentes grupos constata-se a existência de:

– Uma classe dominante (grupo privilegiado): altos dirigentes políticos, quadros administrativos superiores, grandes empresários, grandes proprietários rurais e urbanos, intelectuais, etc.;

– Uma classe média: quadros médios, profissionais liberais (advogados, médicos, professores, jornalistas, etc.), pequenos proprietários e comerciantes, etc.;

– Uma classe baixa (grosso da população): pequenos assalariados, trabalhadores de construção civil, vendedores, pequenos agricultores e comerciantes, pescadores, etc.

Nota: A emigração e o ensino, constituem os principais meios a que a maior parte da população, e em particular o grupo médio, procura para melhorar a sua condição social e económica.

Autor: Prof. António Moreira

Chamo-me António Carlos Gomes Moreira, cabo-verdiano, professor e residente em Portugal. Sou licenciado em Ensino de História, pela Universidade de Cabo Verde, mestre em Administração Escolar e Supervisão Pedagógica, pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Atualmente, frequento o curso de doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade de Évora (Portugal). Sou professor de História de formação. Trabalhei por 11 anos na Escola Secundária Fulgêncio Tavares (São Domingos, ilha de Santiago-Cabo Verde), lecionando, entre outras disciplinas, História e Cultura Cabo-Verdiana. Além disso, desempenhei cargos de gestão intermédia na escola onde trabalhava. Também sou blogueiro e trabalho na área de serviço social, exercendo atividades relacionadas no campo de voluntariado e associativismo. Fui cofundador e/ou líder de diversas organizações associativas, com destaque para a Associação de Pais e Encarregados de Educação do concelho de São Domingos, na qual exerci o cargo de presidente do Conselho Diretivo de 2018 a 2021.

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