O povoamento de Cabo Verde

Sumário: O início do povoamento do arquipélago

Descobertas em 1460, ao que tudo indica as ilhas de Cabo Verde eram desabitadas por altura da chegada dos portugueses.
Dado a sua posição geográfica privilegiada, a Coroa logo teve interesse em ocupar as ilhas, pois estas poderiam servir como lugar de apoio à navegação marítima portuguesa e ao estabelecimento do comércio com a costa africana.

O início do povoamento
O povoamento começou pela ilha de Santiago, mais concretamente na zona da Ribeira Grande, em 1462, por ser esta a que oferecia melhores condições de fixação: dispunha de água doce em abundância, bom porto natural e terras que poderiam servir para o cultivo de plantas.

As dificuldades iniciais do povoamento
Nos primeiros anos, o povoamento enfrentou grandes dificuldades. Poucos queriam vir fixar-se em Santiago, devido a: longa distância entre a ilha e o Reino; inexistência de metais preciosos e especiarias; aridez do clima; pouca fertilidade dos solos para o cultivo de cereais e insalubridade do meio.

A carta régia de 1466 (ou carta de privilégios).
Para ultrapassar essas dificuldades do povoamento, o rei de Portugal D. Afonso V publicou uma carta em 1466, na qual ofereceu os seguintes privilégios àqueles que viessem viver em Santiago:
• Liberdade de comercializar em toda a costa da Guiné, excepto na feitoria de Arguim (zona reservada à Coroa);
• Direito de comercializar todos os produtos, salvo armas, ferramentas, navios e seus equipamentos;
• Dever de pagar o imposto régio – o quarto, de todos os produtos, quando voltassem para Santiago;
• Liberdade de vender suas mercadorias onde e a quem quisessem;
• Direito a não pagar a dízima, caso fossem vender em Portugal.

O impacto da carta no povoamento
A partir da publicação dessa carta, as dificuldades iniciais foram, paulatinamente, ultrapassadas. Muitas pessoas, sobretudo comerciantes, vieram em grande número para Santiago, o que contribuiu para o aumento do povoamento, especialmente nas zonas litorais.

A carta régia de 1472 (ou carta de limitação de privilégios)

Por causa de conflitos entre moradores de Santiago e Fernão Gomes, na região da Guiné, e devido a falta de interesse dos moradores em povoar, de facto, a ilha (queriam apenas fazer o comércio, se enriquecer e depois voltar para Portugal), o rei publicou uma nova carta, em 1472, em que decidiu que os moradores deveriam:
• Comercializar na região da Guiné até Serra Leoa;
• Comercializar apenas mercadorias produzidas nas ilhas;
• Utilizar apenas os seus próprios navios;
• Armar os seus navios em Santiago;
• Trazer escravos para trabalhar nas ilhas e não para vender.

Com essas medidas a Coroa pretendia obrigar os moradores a fazer um povoamento mais alargado e efectivo das ilhas e a desenvolver actividades produtivas através da exploração das terras.

O impacto da carta no povoamento
Essa carta contribuiu para o alargamento do povoamento e surgimento de actividades económicas nas ilhas. Os moradores começaram a ocupar as terras do interior de Santiago para a produção agrícola e pecuária e, mais tarde, povoaram as outras ilhas do país.

Fontes:
RODRIGUES, Joanita Cristina; FORTES, Maria Auxiliadora da Cruz. História e Geografia de Cabo Verde – 7º ano (verão experimental). Porto Editora, Porto, 2011.
ALMEIDA, José Maria. (direcção). Descoberta das ilhas de Cabo Verde. Arquivo Histórico Nacional. Praia, 1998.
ANDRADE, Elisa Silva. As ilhas de Cabo Verde: da descoberta à independência nacional (1460-1975). L´Harmattan. Paris, 1996.
SANTOS, Maria Emília Madeira; TORRÃO, Maria Manuel Ferraz; SOARES, Maria João. História Concisa de Cabo Verde. Instituto de Investigação Científica Tropical, Instituto Nacional de Investigação e Património Culturais de Cabo Verde. Lisboa-Praia, 2007.
CARREIRA, António. Cabo Verde: formação e extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878). 3ª Edição. Instituto de Promoção Cultural. Praia, 2000

Autor: Prof. António Moreira

Chamo-me António Carlos Gomes Moreira, cabo-verdiano, professor e residente em Portugal. Sou licenciado em Ensino de História, pela Universidade de Cabo Verde, mestre em Administração Escolar e Supervisão Pedagógica, pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Atualmente, frequento o curso de doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade de Évora (Portugal). Sou professor de História de formação. Trabalhei por 11 anos na Escola Secundária Fulgêncio Tavares (São Domingos, ilha de Santiago-Cabo Verde), lecionando, entre outras disciplinas, História e Cultura Cabo-Verdiana. Além disso, desempenhei cargos de gestão intermédia na escola onde trabalhava. Também sou blogueiro e trabalho na área de serviço social, exercendo atividades relacionadas no campo de voluntariado e associativismo. Fui cofundador e/ou líder de diversas organizações associativas, com destaque para a Associação de Pais e Encarregados de Educação do concelho de São Domingos, na qual exerci o cargo de presidente do Conselho Diretivo de 2018 a 2021.

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