O processo de doação das ilhas de Cabo Verde

Sumário: O processo de doação das ilhas

Após a sua descoberta, as ilhas de Cabo Verde foram doadas pelo rei D. Afonso V de Portugal ao seu irmão, o infante D. Fernando, de forma perpéctua. D. Fernando passou a ser o donatário (dono) das ilhas.

Funções do donatário
O donatário tinha as seguintes obrigações:
• Armar caravelas que levavam novos colonos de Portugal para as ilhas;
• Introduzir alimentos, sementes e animais domésticos para garantir o sustento dos moradores;
• Fornecer ferramentas necessárias para a construção de casas e trabalhos dos campos;
• Distribuir terras às pessoas da sua confiança;
• Explorar tudo o que havia nas ilhas.

Porém, como não conseguia sozinho cumprir todas as suas tarefas, o infante decidiu doar as ilhas a pessoas da sua confiança.
Assim, a ilha de Santiago foi dividida em duas capitanias: capitania do Sul (sede Ribeira Grande), entregue a António da Noli, e capitania do Norte (sede Alcatrazes), doado a Diogo Afonso. Quem recebia a capitania era chamado de capitão-donatário.

Funções dos capitães-donatários
As cartas de capitania dadas aos capitães-donatários estipulavam um conjunto de obrigações/funções:
• Iniciar o povoamento das ilhas;
• Distribuir terras aos colonos em regime de sesmaria;
• Explorar os recursos e criar as condições para o desenvolvimento económico das ilhas;
• Fixar e cobrar os impostos devidos ao donatário;
• Administrar as ilhas e aplicar a justiça, excepto pena de morte ou corte de membros;
• Passar declaração de moradores aos colonos que vinham para Santiago.

O cargo de capitão-donatário era hereditário e a parcela de terra que ele recebia não podia ser dividida ou vendida. Após a sua morte, essa terra era herdada pelo filho primogénito varão do capitão.

Nome de alguns capitães-donatários das ilhas de Cabo Verde
António da Noli – capitania do sul – Santiago;
Diogo Afonso – capitania do norte – Santiago;
João Pereira – capitanias das ilhas do Sal, Brava e Santa Luzia;
D. Gonçalo de Sousa – capitania de Santo Antão

Nota: O processo de doação das terras obedecia a seguinte hierarquia:

Hierarquia relativa ao processo de doação das ilhas
Hierarquia relativa ao processo de doação das ilhas

Fontes:
RODRIGUES, Joanita Cristina; FORTES, Maria Auxiliadora da Cruz. História e Geografia de Cabo Verde – 7º ano (verão experimental). Porto Editora, Porto, 2011.
ANDRADE, Elisa Silva. As ilhas de Cabo Verde: da descoberta à independência nacional (1460-1975). L´Harmattan. Paris, 1996.
ALBUQUERQUE, Luís de, MADEIRA, Maria Emília (coord.) et al. História Geral de Cabo Verde.( 3Vol). Lisboa- Praia. Instituto de Investigação Científica Tropical, Instituto Nacional de Investigação e Património Culturais de Cabo Verde.2002.
CARREIRA, António. Cabo Verde: formação e extinção de uma sociedade escravocrata (1460-1878). 3ª Edição. Instituto de Promoção Cultural. Praia, 2000

Autor: Prof. António Moreira

Chamo-me António Carlos Gomes Moreira, cabo-verdiano, professor e residente em Portugal. Sou licenciado em Ensino de História, pela Universidade de Cabo Verde, mestre em Administração Escolar e Supervisão Pedagógica, pela Universidade Jean Piaget de Cabo Verde. Atualmente, frequento o curso de doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade de Évora (Portugal). Sou professor de História de formação. Trabalhei por 11 anos na Escola Secundária Fulgêncio Tavares (São Domingos, ilha de Santiago-Cabo Verde), lecionando, entre outras disciplinas, História e Cultura Cabo-Verdiana. Além disso, desempenhei cargos de gestão intermédia na escola onde trabalhava. Também sou blogueiro e trabalho na área de serviço social, exercendo atividades relacionadas no campo de voluntariado e associativismo. Fui cofundador e/ou líder de diversas organizações associativas, com destaque para a Associação de Pais e Encarregados de Educação do concelho de São Domingos, na qual exerci o cargo de presidente do Conselho Diretivo de 2018 a 2021.

5 comentários em “O processo de doação das ilhas de Cabo Verde”

Deixe um comentário